quarta-feira, 21 de junho de 2017

Ecos Literários | Espinosa, Kafka e Murilo Rubião e a cidade

 

O que os três nomes acima têm em comum? Onde a cidade entra nessa equação?  
Bom, vou tentar explicar.
Depois de formada na FAU e já fazendo meu curso de formação no Centro de Estudos de Yoga Narayana, resolvi também cursar Filosofia, na Faculdade de Filosofia da USP, a famosa FFLCH (leia fefeléche, como os uspianos). Infelizmente, tive que interromper o curso antes de terminá-lo, mas algumas matérias realmente me encantaram e me abriram os horizontes, mais ainda do que a Faculdade de Arquitetura já havia feito.

Uma das disciplinas era sobre o filósofo Baruch Spinoza (1632-1677) e o curso era dado por uma professora não menos famosa, a lúcida e brilhante Marilena Chauí (1941). Já tinha feito outros cursos com ela, mas resolvi fazer este, particularmente, já que ela é considerada especialista em Baruch Espinosa, foco de sua longa pesquisa na Universidade. 
Franz Kafka. Imagem: Wikipedia.
Da obra do tcheco Franz Kafka (1883-1924), li pouco, mas sabia de sua ligação com o realismo fantástico, com o irreal e com sua narrativa quase comum do absurdo, transformando o cotidiano em um pesadelo. Li trechos de O Processo e A Metamorfose. Pulei algumas partes e confesso que me senti um pouco estranha.

Do mineiro Murilo Rubião (1916-1991), embora o conhecesse de nome e soubesse de seu perfeccionismo e de seu realismo fantástico, como Kafka, nunca tinha lido nada escrito por ele. Imaginei que deveria ser parente da pintora varginhense Aurélia Rubião. Perguntei para o autor de uma biografia da pintora, o historiador José Roberto Sales, presidente da Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências e ele me confirmou: eram primos e a pintora havia feito um retrato do escritor.    
Murilo Rubião. Imagem:murilorubiao.com.br
 Meu jovem amigo Luiz Carlos Montans Braga, doutor em Filosofia e participante do Grupo de Estudos Espinosanos (USP), e que não sabia sobre o parentesco dos dois, me enviou um artigo escrito por ele intitulado O Medo e a Cidade: Notas sobre Murilo Rubião e Espinosa (aqui). O título do artigo já me chamou a atenção e, a partir de um conto de Murilo Rubião, Montans Braga consegue fazer conexões claras entre os três.

Adorei o conto de Murilo Rubião. Adorei a forma com que o autor ligou esses três personagens e adorei confirmar a atualidade de Espinosa. O excelente artigo me lembrou como Espinosa e suas ideias podem ser aplicadas hoje, me confirmou que não existe neutralidade e quão fundamental é definirmos em qual lado da história estamos e queremos estar. Pelo que sei do filósofo, a questão do olhar (ver como perceber), sempre presente em sua forma de ver o mundo, é confortadora e ratifica nossa forma de pensar e ser. Aliás, o olhar (o saber ver) - foi o mote da exposição de fotos sobre os detalhes do Teatro Capitólio, realizada por Vanessa CTReis e eu (aqui), em 2011, em Varginha.
Praça Trafalgar. Imagem: Divulgação London Greater Authority
Do ponto de vista urbanístico, Espinosa nos traz um conceito de cidade como avesso da solidão e do deserto (distopia). Mais do que nunca distopia é o que existe hoje em nossos centros urbanos, quando vemos a falta de uso e o abandono de muitos espaços públicos, ou as tentativas de privatização desses espaços, embora profissionais de várias áreas do saber façam questão de estimular o uso comum e enfatizar a importância do espaço público para a vitalidade e segurança das cidades.   

Durante a leitura do texto, acabei me descobrindo mais espinosana do que sempre soube, no entusiasmo, na necessidade de aplicar o conhecimento refletido na busca do bem comum e da solidariedade. O lado certo da história!

Viva a Literatura! Viva a Arte! Viva a Filosofia! Cegas, limitadoras e maquiavélicas são as tentativas de negar aos jovens o acesso à Arte, à Literatura, à Filosofia negando-lhes, assim, o direito ao conhecimento, ao questionamento e à reflexão, práticas e saberes que podem nos enriquecer e conduzir, pela vida afora.    

Referências:
Montans Braga, Luiz Carlos. O Medo e a Cidade: Notas sobre Murilo rubião e Espinosa. Disponível em <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/quaestioiuris/article/view/25253>.
Murilo Rubião. Obra completa. Edição do centenário. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.  

3 comentários:

  1. Obrigado Anita pelo belo texto.
    Um abraço do Carlinhos.

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  2. Eu é que agradeço pela gentileza de se lembrar de mim e enviar o texto. Apareça sempre! abraços
    Anita

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  3. Oi Anita, parabéns pelo texto :leve , solto e profundo . Abs Bueno

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