quarta-feira, 17 de maio de 2017

Ecos Imateriais | Grandes do yoga: Celeste



Prof. Maria Celeste Castilho. Imagem: yogapelapaz.blogspot.com.br
 São tantas as pessoas que têm influência na nossa vida e nas nossas escolhas – familiares, professores, amigos - que querer mencionar todos eles seria correr o risco de deixar algum nome para trás, porque se o coração guarda e agradece, a memória nem sempre consegue. Vou citar, então, alguns nomes que tiveram influência não só na minha, mas também na trajetória e difusão do yoga no Brasil, como um todo. Alguns já se foram e outros estão bem atuantes. São pessoas de quem tive o privilégio de ser aluna ou com quem travei conhecimento em seminários, congressos e cursos, ao longo de minha ligação de mais de 30 anos com o yoga. Falo, portanto, de pessoas que admiro, respeito e a quem agradeço pelos ensinamentos, convívio e exemplos, como o sábio e amoroso professor José Hermógenes, a sempre sorridente Maria Celeste Castilho; o querido e suave Shotaro Shimada; a pioneira Maria Helena Bastos Freire; o sempre disponível Marcos Rojo e a amiga do coração Márua Pacce, entre outros.
Salão das aulas práticas de yoga no curso da FMU-SP.
Como já falei algumas vezes do professor Hermógenes, que sempre me trouxe grandes inspirações e lições (Ver Ao Mestre Hermógenes, com carinho; Yoga e Transformação Real ; Vida & Yoga | Professor Hermógenes), vou falar um pouco da professora Maria Celeste Castilho (Monte Verde-MG,1923 – São Paulo-SP, 2016). 
Conheci, pessoalmente, a professora Celeste quando fazia pós-graduação em Yoga, na FMU em São Paulo. Magrinha, lépida e sem se apresentar, ela foi entrando no salão/quadra (tínhamos aula em um grande salão multiuso, adaptado para a prática) e, bastante ágil, subiu em uma mesa de pingue-pongue, sentou-se em posição de lótus e aguardou. Todos nós, acomodados no chão sobre os colchonetes, também aguardamos enquanto Marcos Rojo, coordenador do curso, apresentava a professora convidada para aquela aula especial. 

Já com mais de 80 anos, Maria Celeste era impecável em suas aulas, sempre nos mostrando prós e contras de um asana mal feito e de uma respiração errada, nunca esquecendo de mencionar a filosofia por trás dos asanas, sempre atenta para prevenir e minimizar qualquer desconforto dos alunos e sempre alegre, esbanjando sorrisos e incentivos. Com seu indefectível coque, sorriso franco e olhos brilhantes, a mineira de Monte Verde foi uma das pioneiras do yoga em São Paulo e, talvez, no Brasil, cativando a todos. Faleceu há pouco mais de um ano, em 29 de março de 2016, depois de sobreviver (duramente) a grandes perdas na vida pessoal. 
Celeste e Hermógenes, no evento Yoga pela Paz, SP, 2011. Imagem: namaskaryoga
Celeste descobriu o yoga, na década de 1950, ao folhear um livro do marido. Costureira na época, ela já sentia desconforto na coluna, em função do tempo e da posição exigida para aquela atividade. Começou a praticar os movimentos que via nas páginas do livro, diminuiu seu desconforto e nunca mais parou. Como o marido praticava judô na Academia Shimada, Celeste começou a frequentar aquela academia e logo juntou-se ao professor Shotaro Shimada, outro pioneiro do ensino do yoga em São Paulo. Lá mesmo iniciou sua prática profissional.

Durante décadas, a professora deu aulas de yoga em vários clubes na capital paulista (Jóquei Clube, Pinheiros, Harmonia e Paulistano); tinha grupos também na sua própria casa, além de aulas esporádicas na FMU. Alguns alunos a acompanharam por 50, 60 anos.... Admiradora confessa do professor José Hermógenes, outra referência na área, chegou a participar de um grupo especial organizado pela Academia Hermógenes para viajar e aprender com mestres de yoga da Índia. Em suas aulas, nós a ouvíamos falar maravilhada dessas viagens, do silêncio, das práticas, das vivências e do encontro singular que teve com Sathya Sai Baba.  
 A longeva professora discordava daqueles que diziam que yoga só se destinava aos mais jovens, dotados de corpos saudáveis e belos. Na prática, demonstrava que yoga era para todos, dizia que “...perfeição é aquele ponto que cada um, dentro de si, pode alcançar. Apenas isso”. 
Sob o Sol de Celeste. Livro lançado em 2012.
Nos últimos anos de sua vida, viveu reclusa pela perda de três filhos e de suas reservas financeiras, fruto da desonestidade de pessoas próximas. Para ajudá-la, financeiramente, antigos alunos e amigos reuniram-se para fazer aulas com os CDs que ela havia gravado e se uniram para escrever a biografia ‘Sob o Céu de Celeste’ (Riemma Editora), onde Celeste afirmava ser o yoga a grande dádiva divina que a ajudara a enfrentar os desafios de sua vida. Celeste escreveu ainda um livro de yoga para crianças, o “Rata Yoga”, que ajuda a moçadinha a se divertir e aprender yoga a partir das aventuras da personagem. 


Ainda hoje guardo comigo seus toques, dicas e ensinamentos, sobretudo a sua perfeita definição do yoga - dádiva divina. Porque embora tenha surgido na Índia, o yoga é um presente daquele país para toda a humanidade. Que saibamos aproveitar e ser gratos por esta dádiva. 
Om Yoga, Maria Celeste. Namastê!

http://yogapazeluz.blogspot.com.br/

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