sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Línguas & Tradução | Tradutor é invisível?

O conceito da invisibilidade do tradutor é recorrente nos seminários e encontros entre tradutores e intérpretes e, em geral, está ligado à qualidade do texto traduzido. Quer dizer, quando a tradução é boa, quando o leitor ao lê-la tem a mesma experiência produzida no leitor da língua de partida, quando o leitor não percebe que está lendo um texto traduzido. 
Capa da invisibilidade/Harry Potter. blogdebrinquedo.com.br
Nesse sentido, quanto mais invisível o tradutor, mais visível ele fica, ou deveria. Certo? Alguns tradutores são categóricos nesta questão. O tradutor Adail Sobral, professor da Universidade Católica de Pelotas, no Rio Grande do Sul, por exemplo, é positivo ao afirmar que a visibilidade do tradutor se dá justamente pela qualidade da tradução. Diz ele: 
 Os tradutores são seres pensantes, criadores, respeitosa, mas orgulhosamente, visíveis em “suas” obras, não ilegítima, mas forçosamente: sem sua criação, os autores não se fazem visíveis, mesmo para quem conhece línguas estrangeiras. O tradutor [...] estabelece, firmes pontes entre culturas, entre modos de estruturar o mundo por meio da linguagem viva, a linguagem que se dirige a alguém, em vez de jazer rígida “em estado de dicionário”. (1)
No entanto, muitas vezes, o tradutor fica invisível, literalmente, porque resenhistas, editoras e jornalistas se esquecem de mencioná-lo ao falar do lançamento de livros estrangeiros. Porém, se não houvesse o tradutor, o livro não seria lido na nossa língua. Ou então, tornam-se visíveis, negativamente, quando surge algum deslize. Ora, erro da tradução é uma coisa e não deve ocorrer, mas erro na tradução pode acontecer, sim.

Portanto, se por um lado a invisibilidade do tradutor é associada a um bom resultado final, por outro, o profissional também deve ser lembrado pelo mesmo motivo. Se estiver lendo um livro traduzido e perceber que a leitura flui fácil, sem nenhuma sensação de estranhamento, seja em termos do vocabulário ou da sintaxe, morfologia e uso corrente da língua e mais ainda, sem que você perceba que está lendo uma obra traduzida, acredite: o tradutor parece invisível, mas não é. 
A propósito, parabéns aos tradutores pelo seu dia, 30 de setembro. 
Nota: 
(1) Palestra do tradutor Adail Sobral em:

domingo, 25 de setembro de 2016

Arte & Cultura | Esculturas fantásticas

Los Dedos da Praia Brava em Punta del Este, do chileno Mario Irazábal (1982). 
Foto cedida pelo amigo Lúcio Lopes.

 

Caring Hand, de David Zinn, em Glarus - Suíça. Imagem: Bored panda
 Ora, ora, ora.... Vejam só.   
A revista eletrônica Bored Panda (...tadinho do Panda, gente!) quis nos poupar o tempo gasto em algumas viagens (!!??!!) e publicou algumas fantásticas esculturas em várias cidades do mundo. Vá até o link abaixo e veja muito mais. 
É muita criatividade, com certeza! Mas, cá entre nós, prefiro viajar e ver tudo isso ao vivo e em cores! E você?  
Mustangs, de Robert Glen, no Texas - Estados Unidos. Imagem: Bored Panda
Underwater-Vicissitudes, de Jason Taylor, em Granada. Imagem: Bored panda. Ver mais aqui
 Love, de Alexander Milov, em Odessa-Ucrânia. Imagem: Bored panda

Expansion, de Paige Bradley, em NY. Imagem:Bored panda
Referências:
http://www.boredpanda.com/amazing-sculptures/?utm_source=newsletter&utm_medium=link&utm_campaign=Newsletter  
http://paigebradley.com/ 
http://www.robertglenbronzes.com/ 

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Vida & Yoga | Satya, no Dia Nacional do Yoga


Yamas e Niyamas, segundo Patanjali. Imagem: studiopoyoga.com


No dia 22 de setembro comemora-se o Dia Nacional do Yoga e nos lembramos, então, dos sempre atuais yamas e niyamas de Patanjali em seu conhecido Yoga Sutras. Ahimsa (não violência) e Satya (Verdade) são os dois primeiros. O primeiro traduz o objetivo do homem - praticar e desenvolver em sua plenitude a não violência, a mansidão ou, em última instância, o amor. 
Gandhi refere-se ao segundo, a Verdade, como tão delicada como a flor do pessegueiro e por isso, deveria ser sacrificada quando fosse  ferir alguém. Respeito é não violência. Caridade é não violência. Compaixão é não violência.  Amor é não violência. 

Outro dia li uma menção a um dos personagens de Dostoiévsky, em seu livro Crime e Castigo, que dizia “eles não têm inteligência nem para mentir”.   Será mesmo? Não sei. Há mentiras tão bem formuladas, tão bem arquitetadas, tão bem vendidas, tão intensamente repetidas que passam a ser entendidas como “verdade”. 

Nestes tempos complicadíssimos em que vivemos, tempos de meias verdades e de mentiras disfarçadas, os exemplos de violência e de distanciamento de satya vêm se superando. Mentiras descaradas, desculpas esfarrapadas, explicações cínicas, omissão, disfarces, arrogância e preconceitos na hora de ouvir, analisar, escrever, assumir e "rotular". 
Mostra-se uma "verdade" conveniente, ou apenas um lado, julga-se e rotula-se com base em fatos/atos não comprovados ou em narrativas e suposições propícias ao momento. Justifica-se qualquer ação com estranhas perspectivas e repetidas frases de efeito. Lugares comuns são utilizados aos montes e todos os repetem, sem pensar e sem analisar, como autômatos ou zumbis.
Imagem: br.blastingnews.com
Há tempos, o mundo está mergulhado em diversos tipos de crise: crise econômica, de refugiados, de ética, de entendimento, de respeito, de caridade, de fé. Convive-se com tantas crises,
com tantas ausências que dá até desânimo: falta de amor, falta de respeito ao outro e à verdade, falta de bom senso, de inteligência, de empenho, de compromisso, de solidariedade e de compaixão.  
Ah! E, claro: falta de consciência. Parecemos seres embotados, hipnotizados pela mídia, pelos joguinhos, pelo nosso mundinho, pelo próprio egoísmo. A falta do respeito à Verdade, ao conceito de Satya, é um dos grandes males da humanidade atual, deste nosso século 21, tempos de modernidade líquida, de valores que se liquefazem. 

Imagem: Wikipédia
Nessa imensa crise que nos assola não há um único culpado, um bloco, uma região, uma nação, um grupo, um indivíduo. TODOS têm obrigação de ser e fazer mais e melhor para todos, para o coletivo, para o bem comum, para o planeta. De agir com respeito à verdade, com integridade e responsabilidade em relação a nós mesmos e aos outros.

Não é fácil, mas é necessário. Requer coragem, honestidade profunda e força de vontade pra mudar. Só depende de nós. Como peças de um imenso jogo de dominó, só assim conseguiremos estender essa ação e seus efeitos  a mais e mais pessoas, até abraçar o mundo todo.
Namastê.  

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Arte & Cultura | Design Mesa de bambu



Uma mesinha com base de bambu trançado e tampo de vidro temperado, de 8mm.O projeto é do escritório holandês Plankton, do designer P. Meulendijks (1972), que projeta móveis, luminárias e outros objetos. 

Um de seus focos é a sustentabilidade e o desenho ecológico, daí surgiu um novo material biodegradável, o ECOLOTEK e daí a  PLANKTON. A mesa ‘LOCK’, um dos resultados de sua pesquisa com materiais sustentáveis como o bambu, é construída a partir de múltiplas camadas de bambu, prensadas e moldadas a partir da curvatura natural da planta. O designer descreve seu trabalho como fresco, mínimo, com um toque de humor, consciente e ligado à ideia conceitual básica. 

Referências e imagens: 
http://www.planktonstation.nl/
http://www.designboom.com/design/lock-bamboo-coffee-table-plankton-station-07-18-2016/
 

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Línguas & Literatura | Movimentos políticos em Varginha



  Esta é a 24ª e a mais recente obra do escritor, professor, psicólogo e historiador José Roberto Sales, presidente da Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências –AVLAC. Resultado de um trabalho sério de pesquisa histórica amparada em dados, ofícios e relatórios da época, a obra aborda o período de 1936 a 1972, nesta cidade do Sul de Minas.   
Depois de ler o livro, fiz algumas considerações ao autor e reproduzo parte delas. De início, questiono o uso do termo "comunismo"no título, já que tal movimento em Varginha não me pareceu tão expressivo, talvez mais pela inferência dos agentes públicos do que de fato. A bem da verdade, a partir da leitura dos relatórios e ofícios transcritos, concordei com o autor quando ele lamenta a postura um tanto fantasiosa dos documentos dos períodos pesquisados. Tais documentos, além de mal escritos, mostram ilações e inferências no mínimo estranhas, ou até mesmo levianas, daqueles agentes quando constroem suas narrativas deduzidas (?!) a partir da observação de atividades comezinhas dos cidadãos.
   
Acusavam-se indivíduos, ligando-os a atividades subversivas, em atividades de formação religiosa, moral e ética nos cursos ligados à Igreja Católica. Sem provas, os agentes acusavam e manchavam a reputação dos acusados. Para piorar, o ônus da prova - que deveria caber aos acusadores – acabava caindo sobre os “implicados” que tinham (têm) que mover mundos e fundos para se defender. A propósito, temos visto muitos esse filme, nos últimos tempos. 
Infelizmente, tal estrutura de pensamento perdura até hoje, em maior ou menor grau em todo o país. A herança deixada se enraizou no nosso sistema policial e político e os que defendem a justiça são vistos como “perturbadores da ordem e/ou subversivos”. A considerar tudo isso, Jesus pode ser considerado o maior revolucionário que já existiu, pois ele pretendia mudar totalmente o status quo da época, pregando um mundo justo de amor, fraternidade, caridade, tolerância e respeito entre todas as raças e entre os diferentes. Precisamos, com urgência, compreender que o diferente não é, necessariamente, um adversário; é, apenas, diferente. Ou não?

Outro fato bastante comum no período pesquisado são as tais denúncias anônimas, atividade sobre a qual me eximo de uma análise mais profunda, por absoluta incapacidade de entendimento, naqueles casos. Salvo em situações especiais (porte de drogas, maus tratos, violência, pedofilia, etc), e-mails, telegramas, cartas, comentários anônimos em blogs, jornais e revistas não me convencem. Passam a impressão de alguém que não assume o que pensa e fala, atitude que parece andar de mãos dadas com sentimentos como ódio e medo, atitude de quem não tem argumentos ou certeza do que diz, mas quer denegrir o outro, prejudicar o “diferente” e destruir aquilo que teme. 
Outro hábito típico do período era rotular vários indivíduos como “esquerdistas”, em tom pejorativo e de nítido desprezo, demonstrando seu desconhecimento e preconceito. A própria Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências teve membros arrolados nos documentos pesquisados como “envolvidos” e “suspeitos”, motivo que levou o autor a iniciar suas pesquisas e a usar o termo “flerte” da Academia com o regime militar.  

Bem, o que vemos na história é que, via de regra, Academias de Letras são entidades conservadoras. Preservam a memória, sim; no entanto, deveriam cumprir mais seu papel fundamental - ser um foco de cultura, divulgar o conhecimento, que inclui a riqueza da diversidade cultural - erudita, popular e de massas - e difundir valores eternos como a justiça social, entre outros. Hélio Jaguaribe, cientista político, em seu discurso de posse na ABL destacou ser justamente esse o papel das Academias. 
Espero que a leitura deste livro desperte corações e mentes para lutarmos contra nossos preconceitos, apriorismos e paranoias, mas também, e principalmente, aguçar nosso discernimento para não cairmos em falsas narrativas. 

Referências: 
José Roberto Sales: <sales.jr@bol.com.br>
Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências-AVLAC:
  <academiavarginhensedeletras@bol.com.br>