sexta-feira, 29 de abril de 2016

Memória & Vida : Ainda ensinando e aprendendo...

Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889-1985).

Ainda falando da correlação que existe entre ensinar e aprender, sobre o tocar o coração das pessoas (se ainda não leu, leia o post Memória & Vida | Ensinando e Aprendendo ), lembrei-me de um poema da linda Cora Carolina (1889-1985), Ana Lins G.P. Bretas, que tive o privilégio de conhecer... Aquela doceira de Goiás Velho que era chamada de Aninha por Drummond de Andrade, aquela mulher que lançou seu primeiro livro aos 76 anos, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Goiás - UFG e foi eleita intelectual do ano, em 1983, com o "Prêmio Juca Pato" da União Brasileira de Escritores.
Velha Casa da Ponte, sobre o Rio Vermelho, antiga residência da poetisa, hoje Museu Cora Coralina, na cidade de Goiás-GO.

Não sei
[Cora Coralina]
Não sei... Se a vida é curta ou longa demais pra nós,   
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,  
Se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe, braço que envolve,
Palavra que conforta,  silêncio que respeita,
Alegria que contagia,  lágrima que corre,
Olhar que acaricia, desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela  
Não seja nem curta, nem longa demais,
Mas que seja intensa, verdadeira, pura...
Enquanto durar. 

  Na voz de Juca de Oliveira : https://www.youtube.com/watch?v=iWF9-5J4ldo 

Referências:
http://www.e-biografias.net/cora_coralina/

terça-feira, 26 de abril de 2016

Memória & Vida | Coletivo contra atitudes machistas


Coletivo Zaha das Faculdades de Arquitetura e Urbanismo, e de Design do Mackenzie.     
Imagem: https://www.facebook.com/coletivozaha
Estamos em 2016, certo? Certo.
Terceiro milênio, certo? Certo.
As mulheres começaram a votar na década de 1930, certo?  Certo.
Estes são tempos de velocidade de informação e de tecnologia de ponta, certo? Certo.
Moral e ética deveriam acompanhar essa evolução tecnológica, certo? Certíssimo. 
Atitudes machistas caíram em desuso e mulheres e outras minorias são respeitadas, certo? Errado. Erradíssimo. 
Tais atitudes deveriam estar fora de moda há muito, mas muito tempo mesmo. Infelizmente, estão se fazendo cada vez mais presentes nos tempos que correm. Tristes tempos, tristes trópicos, como disse Claude Lévy-Strauss.  
A cada dia fico mais perplexa com o que vejo e, mais ainda, nos locais e ambientes em que isso acontece. O último lugar a me deixar pasma mesmo, de queixo caído (aliás, se as coisas continuarem como estão, daqui a alguns dias não mais conseguirei fechar minha boca), foi a Faculdade de Arquitetura do Mackenzie, em São Paulo. 
Como mulher, como arquiteta e como mãe, fiquei absolutamente envergonhada, enojada e indignada (mais ainda, porque já ando meio cabisbaixa com alguns descaminhos e situações do país)... com comentários machistas feitos por alguns professores às alunas daquela faculdade.  
Não consigo deixar de deplorar a atitude daqueles professores que maculam esta classe de profissionais indispensáveis à nossa formação, à nossa vida. Respeito é o mínimo que se espera de alguém cujo papel é nos orientar, nos supervisionar nos trabalhos acadêmicos e, por que não, servir de modelo. Conheço vários professores e professoras maravilhosas, que, efetivamente, servem de modelo. Eles e elas sabem que o são. 
Como reação a esses comentários, surgiu o Coletivo Zaha (veja o motivo da escolha do nome aqui, em homenagem à arquiteta, designer, artista e mulher Zaha Hadid).  O grupo  reuniu as declarações machistas e espalhou cartazes com essas frases pelo prédio da universidade, com a hashtag #esseémeu professor

Surreal, certo? Tristes tempos estes nossos.  
A coragem dessas jovens mulheres honra outras que, em todos os tempos, lutaram e lutam pelos direitos de todas as mulheres; oxalá o grupo empreste sua coragem a outras ações afirmativas dos direitos das minorias; oxalá suas ações sejam imitados por todo o Brasil.
Parabéns, garotas, pela iniciativa e pela garra. Que seu ânimo de lutar pela justiça e pela verdade não esmoreça...Tenho o maior orgulho de ser arquiteta e estar do seu lado do muro...    

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Memória & Vida | Ensinando e aprendendo...


Imagem:boaaula.com.br
Ensinar e aprender são duas faces da mesma moeda, mas que se misturam. Pode-se estar, simultaneamente, dos dois lados, embora muitos duvidem. Sou prova disso. Ainda cursava o curso científico no Colégio Estadual Dr. Otávio Mendes - Cedom, na época uma das três melhores escolas públicas de São Paulo, quando comecei a trabalhar, aos 16 anos.  Trabalhava em um jornal de investimentos, no centro histórico de São Paulo, como secretária do editor, jornalista L.F.R. Até hoje me lembro do edifício que abrigava o jornal: Rua São Bento, 370, perto daquele edifício idealizado pelo imigrante italiano Giuseppe Martinelli, o Edifício Martinelli, cuja arquitetura e volume de massa cor-de-rosa já me atraíam, mesmo antes de entrar para a faculdade. Tanto é que, assim que foi lançado, comprei o livro de Maria Cecília Naclério Homem sobre a história deste prédio que, durante anos, foi o mais alto de São Paulo: “O Prédio Martinelli - A ascensão do imigrante e a verticalização de São Paulo”,

Foi lá que comecei a enveredar pela escrita. Embora sempre tenha gostado de escrever, até então, só escrevia para mim mesma, para me entender, para perceber de fora como enxergava determinadas questões. Escrever, aliás, é um ótimo recurso de autoconhecimento. Recomendo vivamente.  Mas, voltando. Além do serviço rotineiro de secretária, organizava uma coluna mensal sobre valorização de fundos de investimentos: tipos de aplicações, rentabilidade, valorização, etc. Nada muito difícil, apenas o relato de matemática pura, de alguns cálculos comparativos. Mas ali, comecei a gostar mais ainda das palavras. 

Final de 1970.
Terminei o Ensino Médio e prestei o vestibular do Cescea para Arquitetura. É bom esclarecer que, naquela época, a USP dividia o vestibular em três grandes áreas: Cescem (para os interessados na área médica), Cescea (área de humanas e Arquitetura) e Mapofei (ciências exatas). Fiz o vestibular, passei na peneira da primeira etapa (28 candidatos por vaga), mas empaquei na segunda etapa - a temida prova de Linguagem Arquitetônica. De 200 candidatos, 150 entraram e eu não estava entre eles. Depois de chorar e esbravejar um pouco, bola pra frente, resolvi cursar um pré-vestibular a partir de agosto daquele ano e continuei trabalhando.

Julho de 1971.
Festa de despedida do trabalho. O pessoal do jornal me deu a maior força, fez uma festa de despedida e me presenteou com inúmeros materiais de desenho, vários tipos de papel, régua T, compassos, canetas hidrográficas, lapiseiras, borracha, esquadros, enfim, tudo da melhor qualidade para que eu pudesse me preparar, ou como se já estivesse na faculdade. Tudo vindo de famosa loja de materiais de desenho da Rua Líbero Badaró, perto do Largo São Francisco. Sempre me lembro com carinho daquela turma, meu primeiro contato no mundo profissional: Sr. Luiz Fernando, sr. Humberto, sr. Valter, Neusa, Valdomiro...     

Agosto 1971.
Antigo Colégio Des Oiseaux. Foto: Denis Morais
Novo no mercado, com turmas menores e ótimos professores, o cursinho Equipe Vestibulares ocupava um imponente (e também meio decadente) edifício na rua Caio Prado, o antigo Colégio Des Oiseaux, mais tarde demolido. Conheci boa parte do meu grupo da FAU naquele cursinho. Nas salas do Equipe, também conheci um garoto louro descolado que viria a se tornar uma referência no design de cadeiras. Eram poucos, mas bons alunos.  
Prestei dois vestibulares, o do Mackenzie e o da FAU. Passei na primeira etapa da FAU e me preparava para a segunda e temida etapa, que era feita nos estúdios do prédio da FAU, projeto de J.B. Vilanova Artigas, na Cidade Universitária. Só o fato de entrar ali, como pretendente a aluno, era de dar arrepios. Não tinha dúvidas, era ali que eu iria estudar.

Primeiro Vestibular para a FAU, 1969. Foto: FAU-USP.
Como era de se esperar, o resultado da Universidade Mackenzie, particular, saiu antes. Meu nome estava lá; fui fazer a matrícula por insistência dos meus antigos chefes no jornal, que haviam me prometido um emprego de meio período para me ajudar no pagamento da mensalidade. Na hora 'H', porém, na hora da matrícula, acabei desistindo. Algo me soprou no ouvido que eu entraria na FAU. Muitos não entenderam, me chamaram de presunçosa, estúpida, tola etc., mas eu sabia que havia tomado a decisão certa. Sabia que seria muito difícil estudar em uma universidade particular, então torci e esperei pelo resultado da FAU. A espera era longa.
Depois do vestibular, estava com minha família curtindo uma semana de praia em Itanhaém, litoral sul de São Paulo. No dia marcado para o resultado (não havia internet àquela época), andamos por uns 40 minutos para ir comprar o jornal, na banca mais próxima. Alegria pura. Dessa vez, havia entrado e lá fui eu cursar Arquitetura, em período integral. 

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo-USP. Foto:imagens.ups.br
 
Mas quem sempre foi ativa e já trabalhava, desde os 16 anos, não fica parada por muito tempo. Logo no segundo ano, fui buscar uma atividade profissional e comecei a dar aulas de inglês à noite. Fui das primeiras professoras do CCAA, quando o grupo se instalou em São Paulo, em meados da década de 1970. 

Agosto 1973
Foi uma experiência linda, lembro-me dos primeiros alunos, todos da minha idade ou um pouco mais velhos. Hoje, em sua maioria, renomados profissionais de várias áreas. Tenho boas recordações daqueles momentos. Mesmo fora das aulas, a convivência era saudável e alegre. Batíamos papo, saíamos para tomar café, comer pastéis, para estudar fora da sala, ali nas imediações das ruas Teodoro Sampaio e Cunha Gago, em Pinheiros. Nas aulas, procurava trabalhar com seriedade, dinamismo e criatividade, mas sobretudo, procurava ser verdadeira e coerente. Entusiasmada por natureza, eu me colocava inteira naquelas aulas. À época, ingenuamente eu acreditava que apenas ensinava inglês; aos poucos, fui percebendo que também aprendia, o tempo todo, e muito. Aprendi a me relacionar, a ouvir, a orientar, a ser contrariada, a ser elogiada e me dei conta da responsabilidade de ensinar e de servir de exemplo. 

Novas turmas, novos alunos, uns mais marcantes que outros, mas todos contribuíram para meu aprendizado da língua e da vida. Sentia que ensinar inglês não se resumia à gramática, à conversação, à pratica de leitura e da escrita. Havia um significado maior que simplesmente, repassar técnicas, dicas e vocabulário. As aulas iam além disso, discutíamos, trocávamos ideias, nos enriquecíamos e aprendíamos uns com os outros. Sentia-me feliz dando aulas.... Ali havia um pacto silencioso, uma troca, para transformar pessoas em seres mais conscientes, capazes de dar um rumo a suas vidas, capazes de colaborar para um mundo melhor, quaisquer que fossem as áreas de atuação. 
 

Imagem:aprenderensinar.blogspot.com.br
Além disso, ensinar a língua me trouxe fluência e um contato mais efetivo com o idioma. Antes dessas aulas, havia falhado em um exame para obter o certificado de proficiência da língua. Fiquei frustrada, confesso, pois tinha certeza de que sabia bem a língua, só que não havia desenvolvido todas as habilidades – era ótima na leitura e na escrita, mas me faltava domínio da conversação e entendimento do que ouvia. Prestei novamente o exame, após seis meses dando aulas e – voilà! As ideias, as frases, as palavras escorriam da mente direto para minhas mãos como se fossem líquidas....e, para minha alegria, o tema era Arquitetura. Juntei duas paixões: escrevi sobre Oscar Niemeyer. Não havia percebido, até então, o quanto tinha aprendido com aquelas aulas.  

Lembro-me das avaliações finais de cada curso, de minha fama de professora exigente e da alegria renovada que sentia quando os alunos demonstravam querer continuar comigo; lembro-me das despedidas, dos jantares, dos cafés,  dos abraços, dos olhares ternos, agradecidos e cúmplices. Eles haviam vencido mais uma etapa, e eu também. Agradeço a cada um dos meus alunos, sempre, os de antes e os de agora.
Anos depois, ainda dando aulas de inglês, mas também trabalhando como arquiteta, lembro-me de encontros em praias, em outras cidades ou países, em consultórios, cinemas, aeroportos ou no mundo virtual. Todos nós, havíamos aprendido e ensinado, porque havíamos tocado os corações uns dos outros.   
Somos todos alunos e mestres da Vida. Que saibamos aproveitar nosso tempo aqui para crescer em humanidade, coerência, sabedoria e alegria.  

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Arte & Cultura | Sonho ou realidade?


Imagem: nois7. Divulgação: Designboom

 Imagem: nois7. Divulgação: Designboom
 Inspirado pelo mundo ao seu redor, o fotógrafo e artista digital Robert Jahns, que assina nois7, adora o que faz – viajar pelo mundo fotografando lugares exóticos. Depois, de volta à sua casa, em Hamburgo, Alemanha,  trabalha as imagens criando paisagens surreais que parecem vir de sonhos, ou pesadelos. Representações que pareçam realistas, embora também possam ser confundidas com imagens oníricas: é seu maior incentivo e desafio.   

Imagem: nois 7. Divulgação designboom.

Em uma entrevista para a revista digital Designboom, Jahns disse utilizar, há quase cinco anos, o Instagram como plataforma para seu trabalho pois recebe retorno muito rápido do mundo todo, o que amplia a difusão de sua arte. 
Os trabalhos favoritos do artista são: o guarda-chuva na Ponte do Brooklyn, em Manhattan, o elefante sobre NY e a série de Veneza congelada.  Quais os seus?

Imagem: nois7. Divulgação: Designboom