quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Arte & Cultura | Arte-denúncia submersa



A Balsa de Lampedusa. Foto do próprio artista: Jason deCaires
Dizem que a vida imita a arte, ou será o contrário? Faltam-me as palavras para definir emoções diversas ao ver as fotos para escrever este texto.  Depois de incursões pelo mundo dos grafites, o artista britânico Jason de Caires Taylor cursou Artes em Londres e, desde então, cria instalações no fundo do mar, formando verdadeiros museus submersos.
A Balsa de Medusa, de T. Géricault. Imagem:
 http://warburg.chaa-unicamp.com.br/obras/view/317
Instrutor de mergulho, escultor, fotógrafo, ambientalista e defensor da vida marítima, Taylor reuniu várias de suas paixões e segue fazendo instalações provocativas que despertam o pensamento crítico em relação ao meio ambiente e à nossa humanidade, ou falta dela. Agora, o drama dos refugiados da Europa, sobretudo os que se afogaram na travessia de Lampedusa, será imortalizado. 
Chamado de o "primeiro museu submerso da Europa", nas costas de Lanzarote, nas Ilhas Canárias, o Museu Atlântico é palco de uma instalação de esculturas de concreto que retratam refugiados, e também outras pessoas, turistas tirando selfies, a “Geração Instagram”. 
 
O artista Jason deCaires Taylor em seu estúdio.
O artista utiliza um cimento branco 15 vezes mais resistente que o normal, para a peça não sofrer os efeitos corrosivos do sal marinho. Aliás, as peças não são nada leves. Em média, pesam de uma a duas toneladas.‘A Balsa de Lampedusa’, fotograda pelo próprio escultor, na foto que abre esta publicação, é uma triste paráfrase da imensa pintura a óleo do pintor Théodore Géricault, A Balsa da Medusa (4,91 x 7,16m), de 1818–19 e exposta no Museu do Louvre, em Paris. A tela, também baseada em fatos reais, retrata o naufrágio de uma fragata francesa e o abandono de 147 pessoas em uma balsa, toscamente construída, sendo que apenas 15 delas sobreviveram.

Uma das esculturas a caminho do museu submerso. 
Foto: Cat Vinton
A proposta do artista compreende ainda o meio ambiente marítimo. Com o tempo, como em outros parques de esculturas submersos, a vida marinha começa a tomar conta das figuras, como se as peças sempre tivessem estado ali, a 15 metros abaixo da superfície do mar, formando um complexo coral artificial que sustenta múltiplas formas de vida, incluindo peixes, crustáceos, lagostas, algas e coral.  

The Rubicon, nas costas de Lanzarote. Foto do próprio artista.

Segundo o crítico de arte do The Guardian, Jonathan Jones, a obra de Jason Taylor não parece ser uma homenagem ou memorial, mas apenas um lembrete da nossa passividade, da nossa responsabilidade coletiva, um lembrete perturbador do mundo que estamos criando. Mas para mim, a tal balsa, afigura-se como um memorial sim, triste, provocativo e emocionante e, sem dúvida, lembrete eterno das consequências de nossa ação ou inação. Jones relembra ainda uma frase do conhecido oceanógrafo Jacques Cousteau: ‘as pessoas protegem o que amam” [o que, convenhamos, vale para tudo - de pessoas a artefatos, objetos, edifícios, paisagens e cidades] e que, segundo ele, tudo indica que o artista adotou essa filosofia e por isso, faz figuras cotidianas e em situações reais para que as pessoas se reconheçam, para despertar o olhar crítico do observador e, ainda, a intenção de cuidar, seguida de uma ação concreta. 
 
Outras obras suas podem ser vistas no MUSA – Museu Subaquático de Arte, em Cancun (A Evolução Silenciosa, instalação que conta com mais de 400 esculturas, que criam um banco de corais), Bahamas (Ocean Atlas) e em Londres (The Rising Tide).
No vídeo abaixo, pode-se ter ideia do trabalho do artista, desde o início com o modelo escolhido, a elaboração do molde, a aplicação do cimento, o manuseio da peça, o acabamento, o transporte e a instalação no MUSA – Museu Subaquático de Arte, em Cancún. Em destaque, o trabalho e os percalços para transportar sua obra mais pesada ( mais de três toneladas).  
Vídeo Jason deCaires Taylor on Mega structures Discovery Channel. 
 Enviado em 12 de out de 2011. 

Referências:
http://musaislamujeres.com/ 

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