sábado, 5 de setembro de 2015

Paisagem construída | Vamos dar nome aos bois?

Sempre li, estudei (e acredito até hoje) que a história oficial tem lado e conta a história de quem quer e como quer; em geral, a dos vencedores, daqueles que satisfazem uma certa narrativa do momento. A título de explicação, neste post falo apenas de autoria de obras produzidas, sem a menor intenção de elogiar ou homenagear o personagem retratado. Muito pelo contrário.
 
Estátua de Fernão Dias, na BR 381. Foto: Anita Di Marco
Enfim, além de Borba Gato, cuja estátua é referência no bairro paulista de Santo Amaro, em São Paulo (Ver Paisagem urbana: Borba Gato), outro bandeirante estudado, mas também não devidamente criticado e contextualizado nos bancos escolares, é o sogro de Borba Gato: Fernão Dias Paes Leme (1608-1681), conhecido como ‘o caçador de esmeraldas’, aquele que saiu à caça de determinada pedra preciosa de cor verde e voltou com outra, crente que tinha achado o seu tesouro. Também paulista, o bandeirante possuía muitas propriedades, explorava terras paulistas e mineiras, e escravizava índios, muitos índios. Partindo de São Paulo em meados do século XVI, comandou a bandeira em busca das tais pedrinhas verdes, aos 66 anos e acabou encontrando turmalinas, no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, acreditando que fossem as sonhadas esmeraldas. Morreu de malária, na volta para a cidade natal. uma estátua sua na rodovia BR 381, Fernão Dias, no trevo de acesso à cidade de Pouso Alegre, Sul de Minas. Antes da duplicação, era impossível não notar a presença da estátua, de uns 20 metros de altura. Hoje, com a rodovia duplicada, ela parece menor.  De qualquer forma, ela me remete à estátua de Borba Gato, em São Paulo, talvez pela proximidade estética, de material e estilo. Mas, por mais que procurasse, não encontrei dados sobre o autor da estátua.
 
E aqui vai uma conversa que sempre tenho com meus botões: Por que não dar o devido crédito aos autores, produtores e/ou tradutores de obras literárias ou de arte (livros,
artigos, ensaios, pinturas, esculturas, fotografias, textos em blogs, poemas)? Muitas vezes, mostram-se imagens ou mencionam-se obras, sem a menor menção a seus autores (ou tradutores, no caso de livros). Quem lê na sua língua ou vê essas obras deve imaginar que tudo surgiu do nada, brotou do chão, como passe de mágica e sem esforço de ninguém.   
 
Então, resolvi propor, de forma leve e sem nenhuma intenção de ineditismo, a campanha Vamos dar nome aos bois. Vários colegas já a propuseram, sob outra roupagem. Concordam? Daqui por diante, quando vocês virem um livro traduzido, sem nome do tradutor; uma obra de arte cuja autoria não foi mencionada; uma foto bonita, um poema, um artigo na internet, lembrem-se de que alguém escreveu, traduziu, criou, pintou, esculpiu, bateu a foto. As coisas sempre acontecem por esforço de alguém ou de alguns. Sempre. Vamos dar nome aos bois, por favor! 
 
Referências: 
http://www.sohistoria.com.br/biografias/fernaodias/ 
http://www.e-biografias.net/fernao_dias/
http://educacao.uol.com.br/biografias/fernao-dias-paes-leme.jhtm

4 comentários:

  1. Essa questão da autoria é mais complicada ainda se pensarmos a internet. Como tem gente se apropriando do que é do outro: criações artísticas, textos, trabalhos científicos, fotografias, entre outros. Não bastasse copiar e não dar os créditos, ainda tem gente que faz da prática algo profissional; ganhando dinheiro com ideias e criações alheias. Uma coisa é se inspirar, outra completamente diferente é "copiar e colar". Não sei se é má fé ou ignorância mesmo... Não é porque está na rede que é domínio público.

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    1. Com certeza, Vanessa, acho que temos um longo caminho ainda a caminhar como sociedade. Não adianta cobrar do outro se não fazemos a lição de casa, certo? Obrigada pela visita. Volte sempre.
      Anita

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  2. Dando os nomes aos bois: os bandeirantes eram mercenários. Sim, isso era o que eram: mercenários que exploravam as terras, matavam índios e estupravam índias... não são uma figura para ser lembrada, mas estudada e evitada no futuro (ou atualmente pois aqueles que tentam evangelizar indígenas podem ser comparados a esses mercenários do início da história brasileira).

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    1. Concordo com você, plenamente. Figuras assim não deveriam ser homenageadas, mas como você disse é bom estudá-los para não repetir os erros. E a questão que eu discutia é a autoria das esculturas, obras de arte, fotos, seja o que for. Este é o objetivo da campanha. E bem ou mal, a escultura dele está ali e marca o local, como tantas outras. Eu só queria saber a autoria...
      Obrigada por participar da discussão. volte sempre, um abraço
      Anita

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