segunda-feira, 11 de maio de 2015

Línguas & Tradução: A arte da tradução

Traduzir é uma arte e um ofício que, como tal, exige sólida formação profissional, adquirida em cursos livres ou de graduação, aprimoramento continuado, constantes exercícios, estudos e leituras, atividades essenciais e corriqueiras na vida de qualquer tradutor.  As línguas são dinâmicas, vivas e se modificam. De tempos em tempos, novas palavras e expressões surgem, outras caem em desuso e, se não percebemos essas mudanças, ficamos “desatualizados”. Por isso mesmo, é que se recomenda ao tradutor a leitura de todo tipo de assunto: de bulas a livros de arte; de rótulos de alimentos a revista em quadrinhos; de manuais técnicos a enciclopédias; de palavras cruzadas a dicionários. Tudo deve fazer parte das leituras de um tradutor. 

São Jerônimo, de Ghirlandaio (1480).

Em resumo, um bom tradutor ou intérprete ama línguas em geral, deve escrever e falar muito bem, tanto em sua língua materna, quanto nas línguas com as quais trabalha. Pelo menos é o que dizem os bons profissionais para todo aspirante ou tradutor iniciante.  Foi o que ouvi há tempos quando comecei na profissão, ouvi mais recentemente e continuo ouvindo sempre que participo de congressos, seminários e oficinas. É o que recomendam Lia Wyler (1934-2018), conhecida tradutora brasileira da série Harry Potter, embora seu trabalho seja bem mais amplo e inclua inúmeros outros grandes autores e temas; Isa Mara Lando, tradutora de George Orwell, Salman Rushdie, Susan Sontag, da National Geographic, entre outros tantos autores; e Ulisses Wehby de Carvalho, tradutor e intérprete, todos eles unanimidades no mundo da tradução e interpretação, além de professores gentis, competentes e apaixonados pela profissão.  Entre os tradutores-teóricos, cito Paulo Rónai, Paulo Henriques Britto, os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, Boris Schnaidermann, entre outros. Por isso, quando meus alunos de inglês demonstram a vontade de seguir a carreira de tradutor, minha sugestão é: muito estudo e leitura nas duas línguas, aperfeiçoamento constante, curiosidade, desconfiança, dedicação e humildade. Só assim, podemos evitar as armadilhas das línguas e os erros comuns que podem atingir até tradutores experientes.

Outra coisa é compreender que falar uma língua não é sinônimo de ser tradutor. É evidente que todo tradutor tem que saber muito bem as duas línguas, a de chegada e a de partida. Mas nem todo bom falante de uma língua sabe traduzir para outra, sobretudo porque a arte de traduzir se dá entre culturas e universos distintos e não apenas entre palavras e frases soltas. A tradução escrita, em especial, é um ato solitário que requer devotamento, conhecimento, paixão e humildade para mergulhar no original e entendê-lo, procurar o termo mais adequado, lapidar expressões e conceitos das línguas trabalhadas visando tornar inteligível, em uma dada língua, um conteúdo expresso em outra língua, deixando o texto final fluir com naturalidade, reproduzindo a totalidade, a ideia, o estilo e a fluência do original.  Para mim, é uma atividade linda, prazerosa, divertida, trabalhosa sim, mas que me enriquece mesmo quando me debato para evitar as tais armadilhas. 

O italiano Domenico Ghirlandaio (1448-1494), um dos primeiros professores de Michelangelo, é o autor do afresco acima (1,84 x 1,19 m) representando São Jerônimo em seu estúdio (1480). A obra está na igreja de Todos os Santos em Florença. São Jerônimo, tradutor da Bíblia do grego e do hebraico para o latim, a chamada Vulgata (ao lado) porque escrita em uma linguagem popular, também escreveu textos sobre a arte de traduzir e é considerado o padroeiro dos tradutores.  O dia internacional da tradução é comemorado em 30 de setembro.

6 comentários:

  1. E o dia dos plurais? Fica mais fácil do que te cumprimentar por tudo que faz. Bjs
    Ione

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    1. Hahahahahahahah, não faço nem um décimo do que gostaria... Eu tento, bjs
      Anita

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  2. Gostaria de traduzir seu texto para o Esperanto, para colar no meu blog, fazendo menção à autoria original, claro. Posso?

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  3. Olá Josenilton,
    Pode, sim e me mande seu email também para trocarmos mais ideias. Depois você me manda o link. Há alguns anos fiz um curso de Esperanto. Admiro quem continua. Parabéns. Um abraço e obrigada pela visita. Volte sempre.
    Anita

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  4. Anita, seu útil e interessante artigo sobre a arte da tradução está traduzido para o Esperanto em

    http://jotakaeme.blogspot.com.br/2015/10/lingvoj-tradukado-la-arto-de-la.html

    Estamos aí na luta!

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    1. Olá Josenilton, muito obrigada. Vou divulgar. apareça sempre.
      Um abraço
      Anita

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